quinta-feira, setembro 27, 2012

homeopatia

Uma, duas, três meu pé doendo, subi dois morros hoje com um sapato meio apertado, trupiquei num bueiro e derramei cerveja na minha saia. Minha coxa tem um roxo na forma de um quadrado, e agora o meio dele tá se amarelando e o vermelho se espalhou pras extremidades de baixo, formou um 'L' como se eu fosse egocêntrica o suficiente prá tatuar a letra do meu nome na própria perna. Eu ainda não sei caminhar.
Dezessete, dezoito, dezenove hoje eu passei na frente da galeria do rock e cogitei subir no terceiro andar, comprar o cd do Lou Reed que eu cobiço desde que caí nessa cidade, aquela versão banhada em ouro - diz o dono da loja - cheia de músicas que falam sobre andar pelo lado sujo da cidade e conhecer os travestis. Cogitei comprar uma camisa do Velvet Underground - ou do Pearl Jam, mesmo - e usá-la como se toda a minha juventude estivesse costurada nas tramas de uma malha provavelmente vagabunda. Com uma camisa de banda nunca se pode ser velho.
Vinte e três, vinte e quatro, vinte e cinco amanhã eu tenho que acordar cedo prá me sentir mais burra do que nunca, ouvindo as palavras de gente que finge falsa modéstia e já leu mais livros que eu posso julgar que existem no mundo, espelhando o que eu devia ser mas tenho quase certeza de que não quero fazer. A essa altura a gente já devia saber da nossa vocação.
Trinta e sete, trinta e oito, trinta e nove meu plano pro ano que vem é não estar desempregada, meu projeto prá quando eu tiver 30 é conseguir dormir direito e não ser motivo de preocupação prá ninguém, o que eu quero prá essa semana é manter o equilíbrio e a sobriedade. Prá semana que vem eu só quero que meu time ganhe no domingo.
Quarenta e sete, quarenta e oito, quarenta e nove é irônico tratar quem quer tudo aos montes e prá ontem com um pouquinho de cada vez, um pedacinho de esperança diluído numa cachoeira de apatia. A gente se acostuma às terapias que aparecem.
Cinquenta gotinhas, eu vou fingir que acredito e vou fingir que vou dormir.

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