sábado, dezembro 17, 2005

LOSING MY EDGE.

Com música, prá tentar desvanecer o tédio que esse fim de sábado me propõe.
E ainda sentindo na ponta da língua o gosto roxo que dança entre o não-doce e o amargo; este vinho que sujou a taça agora há pouco, pose. Pose sim, que esta menina tentando segurar a taça direito, fingindo apreciar as nuances que se transmutam naquele líquido, não sou eu.
Estou mais para aquela que se tortura com a própria preguiça, que sabe de tudo que pode deixar de ganhar por pura apatia. Sou aquela que se afirma no que deixa passar, que faz dos erros bandeiras, e ainda assim olha com cara feia pro [auto]rótulo de vítima. Aquilo que dança por entre cordas já mais que bambas, e salta dum extremo ao outro, sem procurar fixar-se em nenhum deles.
Lagriminhas que não são limpadas dos olhos que vêem aquele casal a saltar na neve, uns cabelos azuis a dançar num vento frio, após a conclusão de que, apagar da mente é inútil, quando o coração se repete até o cansaço, até o sofrimento mais insustentável. Sou choro incontido em filmes que falam de Brilhos Eternos e Mentes sem lembranças.
E sou piedade e relativismo hipócritas, explícitos num ranço que mescla contestação e auto-educação. Aqueles tiros que antecedem os créditos, destruidores mas ainda assim não fortes o bastante prá demonstrar o ódio recém descoberto perante àquela Vila de Cachorros.
Voz que fala às paredes, voz que se veste de outros trajes prá não se expor totalmente, voz que se reserva exacerbadamente por motivos que eu mesma desconheço.

Sou egocentrismo, sou umbiguismo. Sou pretensão de encher linhas e linhas com um assunto que, nem a mim interessa verdadeiramente.
Falar de si por falta do que falar.
Falar de si prá falar de algo que [erroneamente] julga-se conhecer por completo.






[É isso, ou podemos todos dançar lambada na frente do computador.]

segunda-feira, dezembro 12, 2005

[9º Concurso Maldito (é, da outra vez eu me enganei. O último foi o oitavo.). Tema: Desigualdade Social]

Gente.

De minha altura, que certamente prá alguns ultrapassa os meus precisos cento e setenta e três centímetros, essas pessoas me parecem diminuídas. Como se o sofrimento que elas carregam sob as costas fosse tão grande que, aos poucos, os joelhos se curvariam ao peso do martírio e as cabeças inclinariam-se ao chão, denunciando que orgulho ali já não existe; perdeu-se nas esquinas sujas, nas mãos estendidas, nos furtos, nas fomes.
Quando meus cílios pesados de rímel deixam meus olhos abertos, eu vejo olhos cinzas nos rostos dessas pessoas. Vejo uns olhos que parecem pedir desculpa pelo que ainda não foi feito, uns olhos que passeam por todo o meu redor mas nunca miram minhas pupilas diretamente. Eu vejo lágrimas contidas, que, por estarem ali há tanto tempo, acostumaram-se à idéia de nunca irromperem os limites das pálpebras, e congelaram-se, tornando turva a visão e opaco o olhar.
Minhas mãos lisas, que não sabem manusear nada além de canetas e lápis, parecem ofender a aspereza daquelas palmas calejadas, de quem já fez de tudo um pouco e não pôde se dar ao luxo de indagar-se se aquilo ali dava-lhe prazer. Costas de mãos já salgadas de tanto limpar suor de testas, unhas sujas de trabalho e ainda assim, mãos que se postam em oração, prá agradecer o que não há, e suplicar, implorar, mendigar pelo que nunca deveria ter faltado.


Não são só corpos sujos, olhos baixos de vagabundo que não quer trabalhar, mãos ásperas que atrapalham um passeio quando se esticam em pedido. Não são só uma pedra atirada à sua redoma de vidro, ameaçando quebrar sua estabilidade ricamente construída; são corpos, são olhos, são mãos, são, sobretudo, pessoas, injustamente já tão afundadas em desespero, ausência, dor e desgraça.