quarta-feira, novembro 02, 2005

Always, The Hours.

Always, The Hours.

[ "Dear Leonard, To look life in the face, always, to look life in the face, and to know it for what it is. At last to know it, to love it, for what it is, and then, to put it away. Leonard, always the years between us, always the years, always the love, always... the hours..." ]


Mrs. Dalloway disse que ela mesma iria comprar as flores hoje.
Virginia Woolf perdida em seus devaneios de escritora, matando e ressucitando sua heroína. Tirando a vida do poeta visionário prá que os outros dêem mais valor ao que têm ao seu redor. Mergulhando em rios com pedras nos bolsos do casaco.
Clarissa reprimindo seu choro rasgado com festas convites comidas cadeiras flores - que ela mesma comprou. Clarissa sucumbindo à sua dor na frente do fogão, limpando as lágrimas com as costas da mão, que a palma já ia suja de comida que ela preparava pro jantar de mais tarde. Clarissa apoiando sua vida em quem, com olhos tristes dum azul bonito, se joga pela janela após um "eu te amo".
A música do piano ficando mais intensa, as teclas da parte esquerda sendo surradas em acordes graves, cortantemente harmonizadas com o som de notas agudas. Réquiem prum corpo que já não mais tem de de encarar as horas.
Laura chorando escondida no banheiro a tristeza de não conseguir ser menos fria. Deixando romperem as lágrimas que a avisam que, daquele jeito ali não dá prá ser. Que felicidade não é prá ela. Laura que faz um bolo prá mostrar ao seu marido que o ama, e deixa seu filho numa creche prá se entupir de pílulas branquinhas que a livrariam do peso de viver.
E eu ainda tenho que encarar as horas. Aquelas que sucedem e antecedem momentos que, ingênua como só cabe a uma moça ser, julgo serem o início da felicidade quando, na verdade, são só um sopro dela.
Sobem os créditos e eu vejo no escuro do fundo da tela uma menina encolhida no sofá com os cabelos despenteados. O travesseiro amassado entre as pernas e o corpo. A boca abafando choros na fronha alva.

[Quando um filme parece ter sido feito com o extrato dos miolos da sua cabeça, ele não acaba com a última cena. Hoje, nesse feriado cinza, eu assisti "As Horas".]

Sem comentários:

Enviar um comentário